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Fernando de Jesus Regateiro (FJR), Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, coordenador-geral do Mestrado Integrado de Medicina na Uni-CV, académico titular da cadeira n.º XL da Academia Portuguesa de Medicina, Autor do livro “Manual de Genética Médica” (IUC, 2003), co-autor de mais 15 livros, e autor ou co-autor de cerca de 200 trabalhos científicos. Possui a “competência em gestão de serviços de saúde” pela Ordem dos Médicos. O Catedrático afirmou que  quando vontades fortes se conjugam com a ousadia não há “impossibilidades” e o “impossível é possível”. E foi o que aconteceu ao longo do processo que culminou, no passado dia 7 de Outubro com a abertura solene do primeiro Mestrado Integrado em Medicina na Universidade de Cabo Verde. Ainda sublinhou que ficou muito honrado com o desempenho das responsabilidades de coordenador-geral do Curso de Medicina em Cabo Verde, pela distinção que é inerente a esta função. E também pelo que expressa de confiança nas suas capacidades. Ficou muito grato à Reitora da Uni-CV e ao Reitor da Universidade de Coimbra por este reconhecimento.

Uni-CV: Foi difícil o arranque do Curso de Medicina, como Mestrado Integrado da Universidade de Cabo Verde?

FJR: Certamente que sim, mas o que o tornaria realmente difícil seria a falta de ousadia e de vontades! Quando vontades fortes se conjugam com a ousadia não há “impossibilidades” e o “impossível é possível”. E foi o que aconteceu ao longo do processo que culminou, no passado dia 7 de Outubro, com a abertura solene do primeiro Mestrado Integrado em Medicina (MIM) da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) e com a assunção do ensino da Medicina em Cabo Verde como realização da Nação Cabo-verdiana digna de ser celebrada no âmbito das comemorações dos 40 anos de independência.

A relevância dada à instituição do ensino da Medicina na Uni-CV foi sublinhada pela presença, na cerimónia, do Primeiro-Ministro (PM) do Governo de Cabo Verde, José Maria Neves, acompanhado pelo seu Ministro do Ensino Superior, Ciência e Inovação (MESCI), António Correia da Silva, do Embaixador de Portugal em Cabo Verde, Dr. Bernardo Lucena, em representação do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação do Governo de Portugal, de uma delegação da Universidade de Coimbra (UC) integrando o Magnífico Reitor, João Gabriel Silva, o Diretor da Faculdade de Medicina (FMUC), Duarte Nuno Vieira e o coordenador-geral do MIM, Fernando Regateiro, do presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, José Martins Nunes, do Bastonário da Ordem dos Médicos, Júlio Andrade, da diretora do Hospital Central Agostinho Neto (HAN) da Praia, Ricardina Andrade, do Dr. Tomaz Valdez em representação da Ministra da Saúde do Governo de Cabo Verde, da Reitora da Universidade de Cabo Verde, Judite do Nascimento, de representantes de múltiplas instituições do Estado e privadas com relevância para as universidades, a par de um auditório da Reitoria completamente cheio e de uma cobertura mediática ímpar.

Uni-CV: Quais os passos essenciais do processo que conduziu à inauguração do MIM?

FJR: Neste ponto, permita-me que, sem falsa modéstia (já que vejo, na falsa modéstia, uma muito nefasta forma de vaidade!) relate o processo sem retirar da história a minha intervenção, com o rigor de quem a viveu na primeira pessoa. E também, para que não se estranhe o honroso atributo de “pai” do projeto por parte da UC, com que o seu Magnífico Reitor qualificou o meu envolvimento.

O primeiro contacto com o processo ocorreu há cerca de seis anos, quando, em 2009, visitei o então Reitor da Uni-CV (e hoje MESCI) e ele me expressou a sua vontade de vir a ter um Curso de Medicina entre as ofertas formativas da Uni-CV. Encontrava-me em Cabo Verde, por convite oficial que me fora feito como presidente do Conselho de Administração dos Hospitais da Universidade de Coimbra, pelo então Presidente da Assembleia Nacional, Dr. Aristides Lima.

Percebendo que a FMUC poderia ajudar, dada a sua experiência de séculos como Escola Médica e o seu envolvimento, mais recente, no ensino da Medicina na Universidade dos Açores, em condições transponíveis para a realidade cabo-verdiana, de imediato sugeri que poderia vir a ser um bom parceiro para a Uni-CV alcançar este objectivo. Haveria que auscultar o Reitor da UC e a FMUC sobre esta ideia, tarefa que me foi confiada pelo Reitor da Uni-CV. Também logo refletimos sobre o figurino de formação a adoptar, tendo sugerido o figurino “3+2+1”, de modo a que os alunos pudessem estudar dois anos em Coimbra (4º e 5º anos), assim valorizando a formação, e a sua graduação viesse a ocorrer pela Uni-CV. Na UC e na FMUC, a ideia da colaboração no projeto, foi aceite. Pelos Hospitais da Universidade de Coimbra respondi eu, favoravelmente.

Entrementes, fui tendo o privilégio de falar, periodicamente, sobre o projeto, com membros do Governo de Cabo Verde, por ocasião de deslocações suas a Portugal, e de ir comprovando a densificação da ideia, como escolha política. Por finais de 2013, os Governos de Cabo Verde e Portugal rubricaram entendimento em que cabia o apoio de Portugal ao ensino da Medicina em Cabo Verde. Agora, a partir do conhecimento que me foi dado sobre este passo e da subsequente designação pela UC para este trabalho de planeamento e preparação da instalação do ensino da Medicina em Cabo Verde, foi o tempo de planear, colaborar ativamente no desenvolvimento e concretização de múltiplas tarefas inerentes a um processo deste género e elaborar os documentos de suporte à aprovação do Curso (nomeadamente o “Enquadramento Geral do Curso” e o “Plano de Estudos”).

Em Cabo Verde, tinha sido eleita a atual Reitora, Doutora Judite Nascimento, em quem encontrei, desde o primeiro momento, uma inteira adopção do projeto e um empenho sem par na sua consecução, secundado pela adesão da sua equipa e de professores e técnicos da Uni-CV. Seguiram-se diversas viagens de trabalho para reuniões com a equipa reitoral, responsáveis de departamentos e professores da Uni-CV, membros do Governo, o Bastonário da Ordem dos Médicos de Cabo Verde e os responsáveis de instituições da saúde, nomeadamente o HAN, mas também o diálogo no seio de organizações da sociedade civil e com um número significativo de personalidades e profissionais de saúde da sociedade cabo-verdiana. Em permanente interação e diálogo de consensualização de ideias com a equipa reitoral, fui sistematizando as linhas de força e as orientações específicas do ensino da Medicina em Cabo Verde, em particular a definição do perfil de competências do médico a formar, tendo como referenciais a qualidade, a natureza globalizada do Mundo atual e a realidade local. Quanto ao Plano de Estudos segui o da nova reforma da FMUC, com algumas adequações ditadas pela realidade local, pela sua valia e para preparar os estudantes para os dois anos de mobilidade para a FMUC.

O planeamento, o trabalho de preparação das condições para receber os alunos e a criação das condições para a leccionação decorreram em paralelo com a elaboração do documento de Enquadramento do Ensino e do Plano de Estudos e com a socialização do projeto, com apresentações internas na Uni-CV, em sessões públicas diversas (a primeira na Ordem dos Médicos) e através de intervenções na comunicação social.

Ao texto de Enquadramento e ao Plano de Estudos foram adicionadas componentes técnicas, nomeadamente a orçamental, preparadas pela Uni-CV, com particular envolvimento do seu Pró-Reitor João Cardoso. Finalizado a proposta de formação como Mestrado Integrado em Medicina, esta foi aprovada pelos órgãos próprios da Uni-CV e do Estado Cabo-verdiano.

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Uni-CV: Sendo a Uni-CV uma universidade nova, pode garantir que o ensino médico irá ser de qualidade?

FJR: Todo o ensino, superior ou não, deve ser de elevada qualidade. O ensino da Medicina, pela especificidade da profissão médica, não foge à regra, antes exige o máximo de qualidade possível. Por isso, este foi um dos aspectos que mereceram análise mais aprofundada e que foi sujeito a um escrutínio severo por parte de múltiplas personalidades com quem debatemos o processo de instalação do Curso de Medicina, na fase de socialização. Penso estar em condições de responder afirmativamente à sua questão, uma vez que:

  1. A Uni-CV já tem experiência lectiva na área da saúde e recursos pedagógicos e laboratoriais que podem ser partilhados, e tem professores de outros cursos que têm leccionado matérias que também serão abordadas no MIM pelos mesmos professores (por exemplo, a Bioquímica, a Biologia Celular e Molecular, a Bioestatística ou o Inglês);
  2. Por outro lado, a cooperação estabelecida entre a Uni-CV e a UC levou a que, na preparação do Plano de Estudos do MIM da Uni-CV tenha sido seguido de perto o Plano de Estudos da FMUC e que a sólida experiência dos docentes da FMUC seja posta ao serviço da Uni-CV;
  3. Com a finalidade indicada no ponto anterior, foi rubricado, recentemente, um Termo Aditivo ao Protocolo de Cooperação já existente entre a UC e a Uni-CV, onde ficaram estabelecidos os deveres e responsabilidades das partes no âmbito do ensino no MIM na Uni-CV, como seja a atribuição da regência das unidades curriculares da Uni-CV aos professores com a regência de unidades curriculares idênticas na FMUC, como garantia de qualidade do ensino, condição que fora solicitada pela Reitora; 
  4. Acresce ainda, nesta garantia de qualidade, o facto de uma parte da leccionação teórica das unidades curriculares do MIM ser assegurada, presencialmente, pelos professores da FMUC, o facto de os materiais pedagógicos usados na FMUC serem disponibilizados pelos respectivos docentes, para apoiar a leccionação na Uni-CV pelos docentes locais, o facto de os docentes da FMUC se disponibilizarem para produzir gravações de aulas a leccionar na Uni-CV, o facto de a avaliação ser feita ou supervisionada pelos professores de Coimbra e, ainda, o facto de os docentes da FMUC planearem e prepararem previamente a leccionação com os docentes locais e se disponibilizarem para um contacto permanente com eles.
  5. A merecer relevo devo ainda referir que a FMUC tem vindo a acumular experiência neste tipo de colaboração, com o processo lectivo que rege, há anos, na Universidade dos Açores, sendo o MIM que agora tem início na Uni-CV, idêntico ao dos Açores, em muito do seu funcionamento; 
  6. Por outro lado, os alunos farão as aprendizagens do âmbito clínico, dos 4º e 5º anos, lado a lado com os seus colegas da FMUC, incluídos nas diversas turmas práticas, em consequência da mobilidade dos alunos da Uni-CV para a FMUC e o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), onde terá lugar a leccionação destes dois anos do Curso;
  7. Mas há ainda a favor da garantia de qualidade o compromisso de diversas entidades da área da saúde de Cabo Verde para colaborarem, com relevo para o HAN, a Direção Nacional de Saúde, ou a Ordem dos Médicos de Cabo Verde;
  8. E, para acautelar a inserção do curso na realidade cabo-verdiana, os conteúdos lectivos incorporarão temas gerados por esta realidade e será atribuído um tutor (médico comunitário) a cada aluno, responsável por aprendizagens práticas, a certificar em Livro de registo de competências adquiridas pelo aluno – porque a educação médica se faz por “modelos” e as atitudes e os comportamentos próprios do exercício da Medicina não se ensinam, adquirem-se pelo convívio com profissionais médicos em contexto do exercício prático da Medicina;
  9. Refira-se, ainda, o privilégio dado pelo processo de ensino/aprendizagem à integração de matérias, mediada por atividades curriculares de integração, o debate de matérias controversas da atualidade médica e social, com a criação de clubes temáticos para os estudantes.

Uni-CV: Qual vai ser o “figurino” de funcionamento do MIM?

FJR: O figurino do Curso foi desenhado para cumprimento dos objectivos de ensino/aprendizagem e de educação médica a alcançar. É particularmente influenciado pela colaboração dada pela FMUC e pela possibilidade, assim gerada e já referida, de os alunos virem a frequentar as unidades curriculares de índole clínica dos 4º e 5º anos, em Coimbra. É ainda influenciado pela disponibilidade do HAN e da Direção Nacional de Saúde (DNS) com a cedência de Centros de Saúde (CS) para acolherem estudantes e autorizarem profissionais seus para tarefas lectivas. Em consequência, o figurino lectivo será “3+2+1”, o que se traduz em:

  1. Leccionação dos três primeiros anos na Uni-CV, HAN e CS, com supervisão e regências da generalidade das unidades curriculares pelos professores que, na FMUC, regem idênticas unidades curriculares;
  2. Mobilidade dos alunos para a FMUC, nos 4º e 5º anos, e a sua distribuição e integração nas turmas existentes nesta Faculdade, de modo a garantir a qualidade, o rigor e a exigência do ensino/aprendizagem das unidades curriculares de índole eminentemente clínica leccionadas nestes anos, ao mesmo nível, nos mesmos locais e com os mesmos métodos de avaliação dos alunos da FMUC;
  3. Regresso à Uni-CV para a frequência do 6º ano, o ano de Estágio Orientado e Programado e de execução e defesa da tese de Mestrado, igualmente com supervisão e regências por professores da FMUC.

Uni-CV: Qual vai ser o perfil do Médico formado pela Uni-CV

FJR: O perfil do médico formado no MIM da Uni-CV, inclui, entre outras, as seguintes dimensões:

  1. Ser tão bom como os melhores de outras latitudes, com conhecimentos, aptidões e habilidades de índole médica que o capacitem para um exercício da “arte médica” de qualidade, merecedor de reconhecimento por pares de outros países;
  2. Ser portador de autonomia técnica e científica que responda às necessidades do País ditadas pelas realidades geográfica, epidemiológica e nosológica, as duas últimas concatenadas com as fases de transição demográfica, epidemiológica e nutricional em que o País se encontra. A natureza insular do País relevou a necessidade de formação e treino específicos dos estudantes para terem, como futuros médicos, uma elevada capacidade resolutiva, em isolamento, nomeadamente:
    1. no âmbito da vigilância e intervenção epidemiológica;
    2. do suporte básico e avançado de vida e dos cuidados médicos de urgência e emergência para suporte de vida e estabilização de doentes;
    3. da identificação criteriosa dos níveis de gravidade das situações clínicas e de priorização dos casos a referenciar para cuidados de saúde de maior complexidade e de mais elevada capacidade resolutiva;
    4. da atuação clínica eficaz e eficiente na prestação de cuidados de saúde primários;
    5. do seguimento de doentes em ambulatório, em “internamento” domiciliário e em hospitais de proximidade ou CS;
    6. da reabilitação de situações de moderada complexidade;
    7. do uso e interpretação das imagens ecográficas e de treino para uso comum de equipamento portátil de ecografia (como “estetoscópio do século XXI”), da electrocardiografia, da radiologia simples e da “química seca”;
    8. da realização de pequena cirurgia para tratamento e sutura de feridas;
    9. do tratamento de situações traumatológicas de moderada complexidade que não requeiram cirurgia;
    10. do seguimento de grávidas e identificação e encaminhamento dos casos de risco para centros de mais elevada diferenciação;
    11. do seguimento pediátrico;
    12. da telemedicina.

Uni-CV: Quais as oportunidades de trabalho que o Mestrado Integrado em Medicina oferece aos estudantes?

FJR: Um graduado em Medicina tem como área de trabalho primordial o exercício da Medicina, seja como Médico de Família, como Médico de Saúde Pública ou Médico Hospitalar, após as devidas formações complementares exigidas por lei e o reconhecimento da competência profissional pela Ordem dos Médicos.

À formação de base em Medicina, segue-se um período de Internato Médico, com o objectivo de habilitar o médico para o exercício técnico e autónomo da Medicina.

A Ordem dos Médicos é a entidade competente para o reconhecimento da autonomia para o exercício da Medicina. É condição necessária e suficiente para este reconhecimento, a frequência de Internato Médico na forma que a Ordem dos Médicos vier a definir, ou perante currículo considerado equivalente pela Ordem. A obtenção do título de especialista requer a frequência de Internato Médico específico e orientado para a respectiva especialidade.

O titular da graduação em Medicina também está capacitado para o exercício de funções não médicas, na carreira do ensino superior e da investigação e nas carreiras técnicas superiores do Estado ou na atividade privada, em que o conhecimento e as competências em saúde sejam uma mais-valia para o desempenho profissional.

A graduação dá ainda acesso a formação de nível superior, nomeadamente a estudos de terceiro ciclo (Doutoramento).

Uni-CV: Que objetivos se pretendem alcançar com o ensino da Medicina em Cabo Verde?

FJR: A instalação do Mestrado Integrado de Medicina (MIM) na Uni-CV, tem como objectivos:

  1. Assegurar capacidade formativa endógena de médicos;
  2. Ser factor de equidade no acesso à formação médica;
  3. Atrair e congregar recursos humanos de diversas áreas do saber;
  4. Promover o “upgrading” da qualificação de recursos humanos da Universidade;
  5. Fazer do ensino médico uma ponte de diálogo na CPLP e Região Ocidental de África;
  6. Promover o “upgrade” qualitativo dos cuidados de saúde primários, hospitalares e de saúde pública;
  7. Contribuir para a sustentabilidade da economia do País (produtividade, redução de evacuações, atração de estudantes e utentes estrangeiros);
  8. Incentivar e suportar tecnicamente a fileira económica da saúde;
  9. Ser fonte de receitas próprias da UNICV (prestação de serviços).

Uni-CV: Que grandes áreas da Medicina serão leccionadas no MIM?

FJR: As Unidades curriculares a leccionar estão agrupadas nas áreas científicas “Introdução à Medicina e Prática Clínica” com 68.5 ECTS, “Morfologia, Estrutura e Função” com 95.5 ECTS, “Especialidades Clínicas” com 105 ECTS, “Multidisciplinar” com 21, “Estágio Programado e Orientado” com 50 ECTS (e que integra aprendizagens em Medicina, Cirurgia, Clínica Geral, Saúde Mental, Saúde Infantil, Saúde Materna, Oncologia e Saúde Pública), e “Unidades Curriculares Opcionais” com 20 ECTS.

Uni-CV: Do ponto de vista da gestão, que figurino se revela mais adequado para o curso?

FJR: São órgãos de gestão (estruturas de coordenação) do MIM:

- Um Pró-Reitor que centraliza todos os processos respeitantes ao MIM;

- Uma estrutura de coordenação que integra o coordenador-geral e uma coordenação local dedicada exclusivamente ao MIM que trabalha em ligação direta com o Pró-Reitor;

- A Comissão Científica e Pedagógica que assegura a coordenação científica e pedagógica do processo de ensino/aprendizagem e coordena as atividades científicas associadas ao MIM;

- A Comissão Executiva que assegura a gestão corrente do MIM, promove a articulação entre as diferentes comissões de trabalho do curso e entre as comissões de trabalho e as restantes estruturas das instituições envolvidas (Uni-CV, FMUC, CHUC e HAN) e promove a articulação operacional com os parceiros externos;

- A Comissão de Logística que assegura a organização e o provimento dos recursos de suporte ao Curso.

Num outro plano organizacional e de gestão, é previsível a criação de uma Unidade Orgânica dedicada às Ciências da Saúde, em conformidade com os novos Estatutos da Uni-CV, recentemente aprovados. E o MIM será, certamente, uma das ofertas de ensino desta nova Unidade.

Antevejo que a criação da Unidade Orgânica venha a permitir:

  1. a concentração de recursos humanos com diferenciação e motivação para o ensino da Medicina e dos recursos materiais próprios de uma área lectiva ligada à saúde. Com uma gestão global dos recursos para responder à procura formativa em diversas áreas do âmbito da saúde, haverá certamente ganhos de qualidade, de eficácia e de eficiência;
  2. a concentração de recursos humanos e materiais dedicados a investigação própria nas áreas da saúde e venha a ser um enquadramento favorável para os docentes/assistentes do MIM se comprometerem com a obtenção de graus académicos avançados, nomeadamente o doutoramento; mercê da obtenção deste grau e por força do trabalho de investigação que terão de desenvolver para o alcançar (aqui e em cooperação com centros de investigação internacionais de renome, em que a FMUC se inclui), haverá um “upgrade” a nível das aulas práticas do Mestrado, com reflexos na qualidade do ensino;
  3. que, a partir dos laboratórios que serão criados para desenvolver investigação, proporcione a prestação de serviços analíticos de qualidade, capazes de gerarem receitas próprias que poderão alimentar mais e melhor investigação e ensino;
  4. ganhos significativos para a qualidade do ensino, como via privilegiada para uma Escola Médica da Uni-CV que ensine investigando e investigue ensinando. 

Uni-CV:  As comissões específicas já criadas dão resposta cabal às necessidades do curso?

FJR: A experiência recolhida até agora, e que é recente, evidencia boa adequação. No entanto, posso testemunhar que a Reitoria está atenta e estou seguro de que fará as necessárias mudanças se e quando entender que são necessárias.

Registo que a Comissão Científica e Pedagógica conta com o contributo de professores experientes da FMUC. É coordenada pelo coordenador-geral do MIM (função que me compete desempenhar, neste momento) e integra mais dois professores da FMUC.

A comissão de Logística integra um doutorado da FMUC, com elevada diferenciação na carreira de investigação.

Uni-CV: Quantos docentes vão leccionar no primeiro ano?

FJR: Cada unidade curricular tem um regente (responsável pelo respectivo ensino e avaliação) que é Professor da FMUC e aí também regente da correspondente unidade curricular. Cada Regente é apoiado por um ou dois assistentes que asseguram, localmente, todo o ensino prático e o ensino teórico que não for feito pelos regentes durante as suas deslocações (seja com responsabilidade integral pelas aulas, seja apoiando e acompanhando a leccionação quando esta for feita com base em registo de aulas em vídeo, feito na FMUC).

Assim, havendo cinco unidades curriculares com regente da FMUC no 1º semestre e seis no segundo, e duas unidades curriculares opcionais (uma no 1º semestre e outra no segundo) com regência por docente local, já se percebe a extensão do corpo docente no primeiro ano do MIM.

Uni-CV: Qual o sentimento de ser o Coordenador-geral do primeiro Curso de Medicina em Cabo Verde?

FJR: Devo dizer que me sinto muito honrado com o desempenho das responsabilidades de coordenador-geral do Curso de Medicina em Cabo Verde, pela distinção que é inerente a esta função. E também pelo que expressa de confiança nas minhas capacidades. Fico muito grato à Reitora da Uni-CV e ao Reitor da UC por este reconhecimento.

Uni-CV: O que espera dos estudantes deste Curso?

FJR: Os estudantes do MIM da Uni-CV são estudantes muito bem preparados para seguirem os estudos de Medicina: alcançaram os patamares mais elevados do ranking de acesso ao MIM, de entre os cerca de 120 estudantes que fizeram provas específicas de acesso; concorreram, sabendo que havia apenas 25 vagas e que apenas 20 eram reservadas para cabo-verdianos (as restantes destinavam-se a estudantes da CPLP, revertendo as que não forem preenchidas para candidatos cabo-verdianos).

E são alunos esclarecidos. Escolheram candidatar-se ao MIM da Uni-CV porque acreditaram na consistência da oferta e na qualidade lectiva que será praticada, tendo certamente em conta a experiência lectiva da Uni-CV e dos seus docentes, a estruturação do Curso seguindo o modelo usado na FMUC e a forte ligação dos seus docentes ao processo lectivo, bem como a prevista mobilidade de dois anos para estudarem em Coimbra.

Assim, só posso esperar que trabalhem muito, com enfoque particular na construção de um cabedal de conhecimento que resuma o melhor do saber médico, no treino das suas aptidões e na aquisição de habilidades profissionais, para que, no final do Curso, saiam preparados para se fazerem profissionais de excelência, em Cabo Verde ou em qualquer parte do Mundo. 

Com uma certeza, os professores ajudam e devem ajudar! Mas o trabalho e a dedicação de cada aluno faz a diferença!

Uni-CV: Que mensagem final gostaria de deixar aos estudantes do MIM da Uni-CV?

FJR: Gostaria de reforçar a ideia de que o MIM foi planeado para proporcionar uma formação médica capaz de sustentar um exercício da Medicina robusto, seguro e de qualidade.

E de dizer que o habitual alinhamento da ambição do Povo Cabo-verdiano por elevados padrões de qualidade e de rigor que gerou a confiança de outros povos (e que alicerçou o empenho da UC e da sua FMUC no processo de instalação e apoio da formação médica em Cabo Verde, sem receio de delapidar o capital de prestígio acumulado, como acentuou o seu Reitor), esteve presente na preparação dos documentos necessários para oficializar o MIM e estarão presentes em todos os momentos do seu funcionamento.

De dizer também que a equipa reitoral da Uni-CV, a equipa de coordenação do MIM e o sua Comissão Científica e Pedagógica irão fazer um acompanhamento próximo do processo lectivo, com avaliação periódica e frequente dos resultados e do sentir dos alunos e docentes, e que estão determinados para, quando necessário e se necessário, introduzirem as mudanças que sejam entendidas como adequadas para melhorar a qualidade do ensino e a satisfação dos alunos e docentes.

E de dizer ainda que todos os sinais que me foram dados pelos mais altos responsáveis do Governo não deixam dúvidas sobre o compromisso político no sentido de que o MIM funcione da melhor maneira possível.

Finalmente gostaria de afirmar o quanto sinto que estamos no sítio certo e com os parceiros certos, para fazer acontecer as “coisas”, para que as “coisas” não sejam difíceis… Como os caminheiros de António Machado, vamos continuar a fazer o caminho com os que ousaram e souberam concretizar o projeto e agora também com os alunos do MIM que distinguiram o MIM da Uni-CV com a sua escolha, para fazer a sua formação médica.

Quem aqui chegou por “crer para ver” e agora já pode “ver para crer”, vai continuar a FAZER ACONTECER!...