Jaquelino Varela é um ex-estudante da Uni-CV, licenciado em Ciências Biológicas pela Uni-CV e mestre em Ensino da Biologia pela Bridgewater State University. Como um dos membros Alumni da Universidade, o ex-estudante natural de Santa Cruz fala do seu percurso na universidade e de como esta lhe abriu os horizontes para a vida profissional. Afirma que a Uni-CV não foi a sua primeira escolha, mas sim a mais acertada.
Uni-CV: Porque escolheu estudar na Uni-CV?
Jaquelino Varela: Na verdade, a Universidade de Cabo Verde não foi a minha primeira escolha. Quando terminei o 12º ano, queria fazer a licenciatura num país anglófono devido à minha paixão pela língua inglesa. Em 2005, enquanto aluno da Escola Secundária de Santa Cruz tive a oportunidade de participar num intercâmbio nos Estados Unidos. Na altura, o que descobri nessa viagem tornou-se em tudo o que eu almejava como experiência internacional. Então fiz alguns contatos para ver se conseguiria estudar nas universidades norte-americanas, mas infelizmente não consegui e acabei por escolher a Uni-CV como plano B. Era a minha segunda opção, mas acabou por ser a escolha mais acertada. Acho que foi bom não ter conseguido realizar o meu plano A, que era estudar num país anglófono, porque foi através da Uni-CV que consegui estudar nos Estados Unidos.
U: Como foi a sua experiência em estudar na Uni-CV?
JV: Para mim, foi muito difícil, porque sou do interior e de uma família com poucas condições financeiras. As minhas principais dificuldades eram a deslocação do interior para a cidade da Praia todos os dias, além de também ter dificuldades com a alimentação e ainda com os gastos em fotocópias. Somente no 2º ano do curso é que decide morar na cidade da Praia. Relativamente ao curso, não tive grandes dificuldades porque desde sempre me formei para ser um guerreiro para ultrapassar todas as dificuldades que tenho sentido desde criança. Mas consegui ultrapassar com ajuda de colegas e professores porque sempre fui muito humilde, nunca escondi as minhas dificuldades e sou uma pessoa muito abençoada, por onde passo sou rodeado de pessoas que me ajudam.
U: Então os professores e os colegas tiveram um papel de apoio muito importante para ajudar a ultrapassar essas fases?
JV: Sim, até hoje lembro-me de uma colega, a quem chamo de mãe porque ela foi como se fosse uma mãe para mim, ajudou-me em todos os aspetos, partilhávamos a mesa juntos, ela foi muito importante para mim. Os professores também me encorajavam e hoje somos grandes amigos.
U: No tempo em que estudava havia uma grande percentagem de estudantes com dificuldades?
JV: Sim, havia outros estudantes com as mesmas dificuldades, especialmente do interior como eu.
U: O que o levou a escolher a licenciatura em Biologia?
JV: Desde criança que sempre fui uma pessoa muito diversa, de muitas paixões, por isso tornei-me num jovem versátil. Quando conclui o 12º ano tinha muitas opções sobre a mesa para escolher, eram áreas que não tinham nada a ver uma com a outra como por exemplo, o inglês, a medicina, o jornalismo, a biologia e a engenharia, mas acabei por escolher a biologia por causa de influência de um professor do ensino secundário e foi uma escolha acertada, porque sou apaixonado pela natureza, pela vida animal e pela preservação das espécie em extinção.
Uni-CV: Que oportunidades teve através da Uni-CV?
JV: Primeiro foi a iniciação científica que aconteceu em 2009, tive dois meses no Brasil. Foi uma experiência inesquecível e muito interessante. Foi o meu primeiro contato com a pesquisa prática na Universidade Federal de Lagoas, fiz várias amizades, contactos com professores e alunos.
Uma outra oportunidade que eu tive através da Uni-CV, foi fazer o mestrado nos Estados Unidos, na Bridgewater State University (BSU), graças a uma parceria entre a Uni-CV e a BSU.
U: Como foi a experiência na Bridgewater State University?
JV: Foi um ano e meio muito interessante, as condições de ensino são excelentes para qualquer universitário, mas no início enfrentei dificuldades com a alimentação e com o clima. No entanto, não foi difícil ultrapassar. Consegui fazer o meu mestrado num ano e meio na área de ensino da Biologia.
Na BSU, as condições para a prática são de longe as melhores em que já trabalhei. A forte componente prática é uma das grandes diferenças, mas também se o aluno não tem hábito de leitura, não vai conseguir ter sucesso porque em todas as disciplinas tens pelo menos um livro para ler obrigatoriamente e tens de estar preparado para acompanhar.
U: A experiência de fazer mestrado na BSU serviu para passar a ter uma visão completamente diferente sobre a área?
JV: Sim, foi uma experiência muito rica, mas também foi um mundo académico muito diferente. A BSU é um mundo, todos os dias descobria algo de novo dentro daquela universidade, mesmo depois de um ano e meio, nos últimos dias continuava a descobrir algo novo. Os eventos não param na universidade e estão ligados a todas as áreas de formação. Tive a oportunidade de aprender não só em sala de aula, mas também nas atividades extracurriculares que se realizam todos os dias na BSU.
U: Disse que foi uma boa opção integrar um curso superior na Uni-CV e só depois ter a experiência do mestrado a nível internacional, não estava preparado nessa altura?
JV: Quando conclui o 12º ano, achava que o meu nível de inglês era suficiente para estudar num país anglófono, mas não era. Quando fui para os Estados Unidos para fazer o mestrado senti muitas dificuldades com a língua. Com a licenciatura feita e tendo estudado inglês na Uni-CV, mesmo assim senti muitas dificuldades, mas consegui ultrapassar. Por isso acho que foi uma escolha acertada e levou-me a concluir que precisamos fortalecer o ensino do inglês a nível secundário. O nosso nível de ensino não é mau, mas precisa ser fortalecido principalmente a nível prático.
U: Depois da licenciatura e do mestrado começou a trabalhar?
JV: Sim, depois de concluir a licenciatura em 2010, trabalhei na Câmara Municipal de Santa Cruz durante 2 anos como técnico de ambiente e saneamento e exerci a função de diretor do sector por alguns meses antes de partir para o mestrado. Entretanto, sou também voluntário no meu conselho desde 2008 e apresento programas jornalísticos no rádio comunitária até hoje.
U: Como tem sido o seu percurso depois do mestrado?
JV: Depois de concluir o mestrado em ensino da biologia, regressei a Cabo Verde para o meu trabalho em Santa Cruz e dois anos depois fui convidado pelo Ministro do Ambiente Habitação e Ordenamento Território, Dr. Antero Veiga, para trabalhar com ele como assessor e até ao momento é esta a função que estou a desempenhar.
U: Como Assessor do Ambiente, qual é o trabalho diário desta área?
JV: O meu trabalho no Ministério de Habitação e Ordenamento Território é muito complexo. Como é natural o ministro, Dr. Antero Veiga não pode dominar todos os assuntos do seu ministério, então ele precisa de assessores de diferentes áreas para auxiliá-lo sobretudo para dar seguimento a projetos. No meu caso ajudo o ministro a dar seguimentos a projetos ligados ao meio ambiente quando ele precisa de dar um parecer sobre um assunto. Tendo alguma dúvida, nada melhor que uma pessoa da área para ajudá-lo a tomar essas decisões, mas também o acompanho em visitas de campo, ajudo-o a produzir documentos, temos muitos acordos internacionais que temos que estar sempre a dar feedback. O assessor tem que estar por dentro de todos esses assuntos para auxiliar o ministro.
U: Que projetos são esses?
Jaquelino: São projetos ligados a àgua, saneamento, resíduos sólidos.
U: Além da Biologia, disse que tinha outras áreas de interesse.
J: Em 2011 representei Cabo Verde no Fórum de Juventude da UNESCO, em Paris, França. Além disso sempre me dediquei à poesia: o meu primeiro livro, “Mudjer y Mar”, foi lançado em 2013 e o segundo, “Puemas di Sodadi” no final de 2015. Sou um apoiante da valorização e reconhecimento da nossa lingua materna. Além de outros projetos que ainda tenho na gaveta.
U: A passagem pela Uni-CV acabou por mudar um pouco a sua perspetiva da vida?
JV: Com certeza, essas oportunidades que eu tive graças à Uni-CV fizeram toda a diferença no meu percurso académico e profissional: a iniciação científica e a oportunidade de fazer mestrado no BSU.
Uni-CV: Qual é a mensagem que deixa aos estudantes que estão agora a ingressar na Uni-CV?
JV: A mensagem que gostaria de deixar aos estudantes é que devem contar com as dificuldades, mas devem encará-las como desafios que têm que ser ultrapassados e com isso aprender uma lição. Devem aproveitar todas as oportunidades e ter o hábito de leitura e não podem esperar tudo do professor, temos de ser autodidatas. Os estudantes do ensino superior devem ser curiosos e procurar participar e engajar-se em tudo o que é desenvolvido na universidade, mas, sobretudo ter boas notas.