A administração liderada pela Professora Doutora Judite Medina do Nascimento, equipa que foi eleita pela Academia em fevereiro de 2014, chegou a metade do seu mandato. Num momento de reflexão, a Reitora da Uni-CV faz um balanço sobre o trabalho realizado, aproveita para agradecer o empenho de todos e relembra os desafios que ainda é preciso enfrentar.
Uni-CV: Quando iniciaram o mandato como estava a Uni-CV em termos globais?
Reitora: Uma primeira medida que adotámos foi criar uma maior proximidade com a academia com a realização de encontros anuais. Sentimos que na altura o distanciamento era muito grande.
Acabámos de fazer a ronda deste ano com a última reunião com os funcionários. É um hábito que vamos instalando, de ter um período em que fazemos balanços e nos colocamos à disposição da academia e também para debater problemas que se desenvolvem no seu seio.
Inicialmente havia um grande mal-estar entre a Vice-reitoria do Mindelo, e os estudantes e o Reitor. A razão devia-se a desacordos no que respeitava a algumas taxas constantes da tabela de emolumentos. A análise da referida tabela levou-nos a concluir que a mesma realmente merecia ser revista. O que fizemos quando entrámos foi precisamente fazer uma revisão da tabela de taxas e emolumentos.
Outro tema de tensão tinha a ver com o fato de nós cobrarmos pelas declarações para renovação de bolsas e os estudantes que não tinham condições e que queriam aceder às bolsas, às vezes não conseguiam por não terem dinheiro para pagar essa declaração. Nós o que fizemos foi acrescentar uma rubrica que possibilita aos estudantes adquirirem essa declaração através da instituição que lhes fornece a bolsa, que deve por sua vez solicitar diretamente à Universidade e neste caso, a declaração torna-se gratuita. Decidimos fazer isto através da instituição que fornece bolsas para evitar que haja o uso abusivo dessa medida.
Quando atualizámos a tabela de taxas e emolumentos eliminámos a principal razão do mal-estar entre a Reitoria e os estudantes.
Um outro aspeto era o fato de termos muita acumulação de disciplinas em atraso. Nesse caso, efetivámos um período de exames de recurso que tinha sido usado esporadicamente noutras alturas. Neste momento, instituímos como definitivo que em setembro é realizado o exame de recurso, que permite a todos os estudantes que têm disciplinas em atraso resolver o seu problema.
U: A eleição livre do Reitor foi lufada de ar fresco na academia?
R: Pensamos que sim, porque um Reitor eleito tem a legitimidade interna que o possibilita gerir a instituição de forma muito mais autónoma e portanto consegue tomar medidas que um Reitor nomeado não poderia tomar autonomamente. O fato de ter esse poder, sem ter de estar sujeito à aprovação superior, faz com que tenha mais margem de manobra para encaixar soluções para os problemas internos de forma muito mais rápida, em determinados assuntos.
U: Nestes dois últimos anos houve uma grande evolução do ensino com novos doutoramentos, cursos, o CESP e projetos de investigação. Que outros desafios têm para o futuro?
R: Nós iniciámos o mandato a meio percurso do ano letivo de 2014/2015, a 24 de fevereiro, e nessa altura tomámos como medida estratégica de não abrir novas ofertas, salvo na pós-graduação, porque queríamos sentir o pulsar da academia e do mercado. Queríamos ver realmente quais eram as áreas que se revelavam como prioritárias para o país e para a Universidade de Cabo Verde. Este ano 2015/2016, nós oferecemos várias novidades a nível da graduação e pós-graduação, incluindo dois doutoramentos um dos quais já arrancou.
U: Também houve bastante trabalho à volta da constituição de novos laboratórios e o contínuo aumento das bibliotecas com novas bibliografias. Como tem sido este processo?
R: A instituição não tem muitos recursos. No entanto o que fizemos foi, para além das aquisições, considerar as parcerias que a Universidade de Cabo Verde tem, muitas vezes pela iniciativa dos próprios professores, dos centros de investigação, reitoria, cátedras, departamentos ou do Serviço de Edições, e nós conseguimos ter donativos de livros e foi assim que o nosso acervo melhorou consideravelmente este ano. A nível de laboratórios, temos contado com o apoio de parceiros, nomeadamente o Governo.
U: Em termos da questão orçamental, o pagamento de propinas continua a ser um grande problema para a Universidade?
R: Sim, continua a ser um constrangimento porque há estudantes que têm real dificuldade em pagar propinas. Esse é um problema que vamos ter de refletir com o Governo, sobre a responsabilidade social da universidade pública e a coerência do sistema de financiamento da mesma. O que nos parece é que embora hajam estudantes que possam pagar, temos outros que têm condições psicológicas e competências intelectuais para estudar, mas não conseguem aceder ao ensino superior por razões financeiras e isso leva o país a perder oportunidades importantes de desenvolver competências em pessoas que possam servir o país. É algo que vamos ter de discutir descomplexadamente com o Governo e repensar o sistema de ensino público e o sistema de financiamento. Quanto mais não seja através do sistema de apoio social que já registou uma grande melhoria com o aumento de bolsas de estudo, mas pensamos também que há margem para procurar outras soluções.
U: Mas além da ótica dos estudantes, também há a questão da gestão da Universidade.
R: O facto de alguns estudantes não conseguirem pagar propinas, faz com que muitas vezes não seja possível à Universidade fazer a reposição dos equipamentos obsoletos em tempo útil, tal como a manutenção dos espaços, e por outro lado também existe o problema do pagamento aos professores a tempo parcial e das horas extras dos professores a tempo inteiro. Portanto muitas vezes temos muita dificuldade em cumprir com os nossos compromissos financeiros por não termos recursos no tempo que é devido, isso é um desafio e é algo sobre o qual estamos a conceber medidas de mitigação. A informatização do sistema permite-nos ter uma ideia clara dos nossos problemas, então este ano e com o plano estratégico, nós vamos certamente começar a solucionar vários desses problemas. Vamos negociar com todos os que trabalham connosco a ver se conseguimos soluções. Mas não há dúvida que há uma grande melhoria e a grande novidade que temos é que o nível de cumprimento das datas de entrega das pautas aumentou consideravelmente e por isso os nossos estudantes conseguem saber quem tem que ir a exame a tempo e horas. E isto tudo é possível graças ao empenho de várias pessoas da universidade. Eu gostaria de destacar os serviços técnicos, que têm feito um trabalho extraordinário na informatização do sistema e também deixar uma palavra aos serviços académicos que têm implementado melhorias significativas na forma de gerir o sistema. Aos docentes que cumpriram os prazos, também fica aqui registado o nosso apreço e respeito.
U: O plano estratégico já está concluído, o que pretendem com ele?
R: Qualquer instituição tem que ter objetivos estratégicos para se desenvolver e realmente a Universidade tem estado a ser gerida por planos de atividade desde a sua fundação. Este plano estratégico pretende a nível global definir as grandes orientações e os grandes objetivos da instituição. A primeira medida que nós tomámos foi precisamente começar a discutir com a comunidade académica para que fosse, não um documento da reitoria, mas da academia, portanto que refletisse realmente as grandes inquietações e aspirações da academia. E conseguimos. Neste momento temos a versão zero com as áreas prioritárias de desenvolvimento da nossa instituição. O plano estratégico vai permitir-nos desenvolver muito mais rapidamente, de forma mais clara e eficaz. Vai permitir-nos dar um salto qualitativo que vai ser regulado por um sistema de qualidade com o qual vamos ter a possibilidade de produzir relatórios de avaliação coletiva e individual de forma automática o que nos vai ajudar a melhorar significativamente o serviço que nós oferecemos.
U: Os estatutos também já foram aprovados.
R: Quando assumimos, tínhamos o limite temporal para apresentar em 180 dias uma proposta ao Governo e muito antes do prazo, a 14 de agosto de 2014, conseguimos apresentar o documento dos Estatutos. A versão que apresentámos foi discutida com a academia e aprovada pelo conselho da Universidade e, um ano e meio depois, conseguimos ter o documento aprovado e para nossa felicidade foi aprovado em 99% do que tinha sido proposto inicialmente, o que significa que o trabalho foi reconhecido como bem feito pela academia. Lamentamos, no entanto, que entre as poucas modificações efetuadas pelo Governo estejam algumas que retiram boa parte da autonomia já conquistada.
U: Acha que o documento reflete a realidade académica atual?
R: Sem dúvida, por que foi discutido com a academia, então as pessoas tiveram a oportunidade de dizer o que pensam e como gostariam de ver a instituição no futuro. Neste momento temos uma universidade em que todos têm condições para se sentir bem e quando isso não acontece podem reclamar e ser atendidos na medida das nossas condições e se tiverem razão.
U: Melhorar as condições de trabalho da academia tem sido um dos grandes objetivos desta administração. Têm conseguido?
R: É nesse sentido que temos feito um esforço para negociar com o Governo o desbloqueio de financiamento de alguns projetos de investimento. Já conseguimos reabilitar parte do edifício da ECAA, a Escola Grande, a Casa da Música, o DECM e a obra de reabilitação do Liceu Velho, no Mindelo, está em curso.
U: E sente que a Uni-CV se tornou num referencial de opinião sobre as questões da sociedade?
R: Sim, quando entrámos nesta administração já existia um Gabinete de Comunicação e Imagem, mas que não tinha muito impacto na academia por que se limitava de vez em quando a colocar algumas notícias mais referentes à reitoria. Uma das primeiras medidas que tomámos foi criar uma assessoria de relações públicas e imagem e equipar o gabinete com os recursos que tínhamos internamente que eram um docente e estudantes estagiários das áreas de Relações Públicas e de Comunicação e Multimédia. Essa medida fez com que num curto intervalo de tempo conseguíssemos reconstituir o nosso site e torná-lo muito mais apelativo e dinâmico. Além disso, o site passou a retratar a atividade de toda a academia em vez de ser apenas da reitoria. E esse foi um avanço muito grande para podermos comunicar melhor com a comunidade e poder mostrar melhor o valor de cada um. Além disso, também conseguimos refazer a imagem da nossa instituição através da criação de novos templates e de todos os produtos que oferecemos e isso está a criar a diferença. A forma como se vê a Universidade hoje é diferente de como se via há dois anos. Trata-se do resultado de um trabalho de equipa em que cada um comparticipou em função das suas competências pelo desenvolvimento da Uni-CV.
U: E isto serviu par dar visibilidade aos conhecimentos que a academia tem?
R: Sim, não fomos nós que trouxemos os nossos especialistas, trouxemos alguns através dos circuitos normais de contratação pública. O potencial estava cá dentro, mas não tinha sido reconhecido. Achamos que a vantagem desta nossa gestão é que nós conseguimos valorizar e elevar a autoestima da nossa academia ao ponto de esta conseguir começar a explorar o seu capital, no qual sempre acreditámos. Já conseguimos explorar uma parte, mas ainda não conseguimos nem metade, estamos na pontinha do iceberg. Ainda há muita gente que poderia dar mais à academia e que ainda não deu, talvez por timidez, desconfiança ou inércia. Mas acreditamos que aos poucos darão cada vez mais, porque esse potencial existe, a academia não é feita pela Reitoria. A Reitoria cria condições para que a academia pulse e realmente nós estamos a criar essas condições e os resultados estão à vista de todos.
U: Em conclusão, uma pergunta mais pessoal: A Doutora Judite era docente, como tem sido para si a experiência deste cargo?
R: Eu sou docente-investigadora, essa é realmente a minha vocação e a minha essência. Eu estou no cargo de Reitora neste momento porque a academia atingiu um nível em que era necessário que estivesse na liderança alguém que a conhecesse bem, capaz de constituir uma equipa e que realmente se entregasse e conseguisse com que muitos outros que aqui dentro já se entregaram à academia e que se sentiam defraudados com o caminho que estava a tomar, se soltassem e começassem a produzir pela Uni-CV. E no momento crucial em que se estava a passar de um sistema de nomeação para o de eleição, portanto tinha que vir alguém de dentro da própria constituição que conseguisse criar uma equipa capaz de assumir os verdadeiros desafios desta instituição com um sentido de solidariedade institucional, mas sobretudo assumindo os valores e os princípios que a instituição tem e nós tentámos respeitar cada um desses valores e traduzi-los em práticas. Antes as pessoas nem conheciam os estatutos, os instrumentos de gestão e neste momento já conhecem. Eu penso que isso é um grande ganho para a academia. Não vou dizer que já não há problemas, pois não fizemos milagres, mas estamos a eliminá-los a pouco e pouco. Acredito que já conseguimos eliminar uma grande parte dos problemas desta “casa” e isso aconteceu com a colaboração de todos. Não foi a Reitora que o fez, a Reitora e a equipa reitoral estão a criar condições para que a academia o faça. As pessoas foram chamadas a participar e estão a fazê-lo.
Quando chegámos à Reitoria, já havia um trabalho muito grande sobre as relações externas da Uni-CV, mas a nível interno ainda havia algum défice. Antes pensava-se que o que havia de melhor vinha de fora. Nós conseguimos provar que o que há de melhor nesta academia vem tanto de fora, como de dentro, o que devemos fazer é capitalizar as nossas parcerias e o nosso potencial endógeno.
U: Gostaria de deixar alguma mensagem à Academia?
R: Sim, gostaria de manifestar a minha satisfação em ver resultados muito concretos com a participação de todos. Portanto serviços académicos estão de parabéns, no último semestre fizeram um excelente trabalho na implementação de um sistema eficaz para entrega de notas. Por outro lado, os docentes e funcionários também estão de parabéns por terem implementado e aderido da forma mais correta às normas em vigor.
Com este novo sistema, eu penso que a partir de agora vamos sentir-nos todos muito mais à vontade naquilo que fazemos, os processos serão muito mais rápidos, os próprios despachos vão ser mais rápidos, os pareceres serão também mais rápidos.
Gostaria de agradecer à equipa reitoral e à Administração Geral o empenho, profissionalismo e espírito de equipa com que temos funcionado. Também temos os que não sendo dirigentes, têm desempenhado trabalho como se fossem, que têm feito um trabalho extraordinário para nos ajudar a implementar os projetos de investimento com muita qualidade e empenho. Refiro-me também ao pessoal dos Recursos Humanos que tem conseguido melhorar significativamente o seu serviço. Os centros de investigação estão a pulsar, o CIGEF tem feito um trabalho muito significativo, mas também a Cátedra Amílcar Cabral ganhou uma dinâmica nova e está muito aberta à sociedade. Era o que nós queríamos e o que tínhamos definido. Temos outros aspetos muito positivos, como o trabalho extraordinário desenvolvido por professores com estudantes no seu tempo livre, que tem contribuído de forma significativa para a construção do espírito académico.
Gostaria também de destacar um grupo de estudantes que tem feito um trabalho interessante na academia que são os estudantes que têm dinamizado o Tereru di Amizadi, os da ACAD Uni-CV e o grupo de voluntários da Uni-CV. Na Ação Social, nós tivemos um avanço muito grande com a instalação do Gabinete de Orientação Psicopedagógica (GOPE) em 2015, que teve um grande impacto sobre a nossa academia e sobretudo a nível dos estudantes que precisam do nosso apoio. Infelizmente ainda não temos todas as condições necessárias, mas estamos a trabalhar para chegar lá. A Ação Social tem feito um bom trabalho de uma maneira geral através da gestão dos processos das bolsas internas e externas.
Também é preciso dar destaque aos nossos parceiros nacionais e internacionais no apoio que têm dado às nossas atividades e projetos que temos desenvolvido, através do financiamento de bolsas, da concessão de donativos, no patrocínio dos grandes eventos que temos estado a desenvolver. Tudo isso tem tido um grande valor para a academia. A cooperação internacional tem contribuído gradualmente com o financiamento de bolsas para formação avançada dos nossos docentes para lecionar nos programas de Mestrado e Doutoramento da Uni-CV.
Aproveito o momento para agradecer às pessoas que têm trabalhado muito proximamente de mim.
Além disso, é inestimável o patrocínio de equipamentos de laboratório, salas especiais e outras de investigação.
Os serviços administrativos e financeiros são outro núcleo que é importante destacar, por que tiveram uma mudança muito grande. Neste momento, quando chegamos ao final do ano já quase que temos os relatórios finalizados para apresentar as contas, portanto a prestação de contas na Universidade agora é uma coisa quase corriqueira, graças à equipa que está a labutar diariamente para a sua melhoria contínua.
O Gabinete de Edições e Documentação aumentou a sua produção consideravelmente.
O Gabinete de Estudos e Planeamento organizou as estatísticas da Uni-CV e agora já temos finalmente uma noção real da nossa academia em números e percentagens. A nossa base de dados com toda a informação relativa à cooperação nacional e internacional está totalmente organizada, graças ao empenho de todos os que trabalham nesse setor.
Os presidentes das unidades orgânicas e os seus vogais têm enfrentado muitos problemas de forma muito profissional e estou-lhes completamente grata. Nem sempre estamos de acordo, mas sempre conseguimos chegar a acordo em prol do desenvolvimento da nossa universidade.
Nem tudo corre às mil maravilhas, mas dentro do possível acredito que estamos a fazer um trabalho que merece crédito. Acredito que melhoraremos a cada dia. Com a implementação do sistema de avaliação integrado ao sistema global de qualidade, eu penso que haveremos de melhorar ainda mais aquilo que já fazemos.
A qualidade do trabalho das instituições está nos seus recursos humanos. Cada membro desta academia deve dedicar algum do seu precioso tempo à reflexão sobre o seu papel no desenvolvimento da instituição e sobre a importância da sua participação na procecussão dos grandes objetivos e das grandes metas da Uni-CV.
Para isso, temos de trabalhar no sentido de melhorar as condições e oportunidades para os nossos estudantes, docentes e funcionários. Sabemos que é assim que estamos a fazer a diferença, não só no ensino superior, mas em Cabo Verde.
Para finalizar, gostaria de dirigir um grande agradecimento a cada membro da academia que consciente do seu papel e importância para o desenvolvimento do sistema, todos os dias acrescenta um valor e dá um contributo ao desenvolvimento da universidade, em função das suas capacidades, competências e atribuições.
Aos nossos parceiros nacionais e internacionais, também uma palavra de apreço pela confiança.
Bem hajam!